A última edição do
Boletim de Farmacoepidemiologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), divulgada nesta terça-feira, usa dados sobre a venda de inibidores de
apetite entre 2009 e 2011 para justificar sua proibição — com exceção da
sibutramina, os medicamentos desta categoria tiveram a venda proibida no Brasil
a partir de dezembro de 2011. No levantamento realizado em todas as capitais
brasileiras e no Distrito Federal, a agência alerta: quando há aumento de 1% na
população obesa, a venda de inibidores de apetite cai em 8,3%. O boletim afirma
que, no período, houve "distorções em relação à população alvo, ao uso
continuado e à combinação medicamentosa." Ou seja, seria um indício de que
os medicamentos estariam sendo mal prescritos pelos médicos.
Especialistas ouvidos
pelo site de VEJA, no entanto, discordam dos resultados encontrados pela
Anvisa. "Não se pode fazer uma relação de causa e efeito entre duas
variáveis que não são, necessariamente, dependentes", diz Ricardo
Meirelles, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
(SBEM). De acordo com o endocrinologista, a interpretação do órgão é
tendenciosa. "A partir da mesma pesquisa, eu poderia afirmar o contrário:
que o número de obesos aumenta quando há queda no uso de remédios, por
exemplo", diz.
O boletim também traz
a informação de que 79% do consumo de inibidores depende de consumo passado —
são casos de pessoas que já haviam usado o medicamento antes e que voltam a
usá-lo. A obesidade, como se sabe, é uma doença crônica. "Uma pessoa pode
tomar o remédio várias vezes, porque volta a engordar. Isso não significa que
ela está fazendo uso exagerado da droga", diz Meirelles. Levantamento
realizado pelo médico afirma que, em 2010, apenas 1,7% dos obesos brasileiros e
0,5% das pessoas com sobrepeso estavam sob medicação. "É um número muito
pequeno, não dá para correlacionar duas grandezas, como a Anvisa fez",
diz.
Em defesa própria – Para Amélio Godoy,
ex-presidente da SBEM, a conclusão da Anvisa tem um propósito claro. "Ela
está saindo em defesa da proibição dos inibidores", diz. O argumento do
especialista é estatístico. Segundo ele, enquanto o número de obesos no país
crescia, aqueles que tinham acesso ao uso de medicamentos, não. "Toma
remédio para emagrecer quem consegue remédio. A maioria absoluta dos obesos vem
de classes baixas, que não têm sequer acesso ao tratamento."
Boletim - O levantamento
analisou a venda dos inibidores mazindol, femproporex, anfepramona e
sibutramina nas capitais brasileiras e no Distrito Federal (DF) entre 2009 e
2011. Todos os dados foram coletados pelo Sistema Nacional de
Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC, informe das drogarias da venda de
medicamentos de controle especial), além de informações do Ministério da Saúde.
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